A Invenção da Mentira - Ricky Gervais no seu melhor
Mais uma vez, Ricky Gervais junta-se ao extremamente hilariante e realiza um filme fora do comum. A comédia é a sua praia e se gostam de séries como The Office ou a mais recente After Life vão-se questionar porque é que ainda não assistiram este filme.
Mark Bellison (Gervais) é um homem de meia idade solteiro num mundo em que não se diz mentiras, principalmente por não existir tal conceito, não estando na natureza humana (risos). De facto, parece uma ideia confusa para a maior parte da humanidade, aqui não. Qualquer pessoa diz o que lhe vai na mente sem rodeios ou eufemismos. Até o protagonista, que trabalha em cinema a escrever guiões, é obrigado a escrever sobre factos apenas, não existindo ficção. Está encarregue de escrever sobre o século XIII e realizou um filme sobre a peste negra que não obteve êxito.
Entramos neste mundo distinto através de um encontro às cegas que Mark tem com Anna (Jennifer Garner), que é tudo menos o que estamos habituados a ver. Descobrimos que a personagem principal está prestes a perder o emprego e, consequentemente, a ficar sem casa por falta de dinheiro para pagar a renda. Numa ida ao banco para reaver os últimos 300 dólares que lhe restam na conta, algo acontece no seu cérebro e acaba por dizer à funcionária que quer levantar 800 dólares - o suficiente para pagar a renda mensal. Como aqui ninguém mente, a senhora não tem nada a fazer senão aceitar que o que ele diz é verdade, mesmo que a sua conta não tenha tal quantia, assumindo que há um erro no sistema.
É a partir deste momento que vemos Mark a aperceber-se um poder nunca antes descoberto e a começar a utilizá-lo em seu próprio benefício: num casino; para reaver o seu trabalho; e até para conseguir um segundo encontro com Anna. Torna-se o mestre de algo que nem tem nome e que só ele consegue fazer - dizer mais do que a verdade (com óbvias mentiras, a ocultação da verdade ou simples metáforas - todos o levam a sério).
Estava tudo a correr às mil maravilhas para o protagonista até que recebe a notícia que a mãe está no hospital num estado muito grave. O médico, sem poupar palavras, conta a Mark que ela está a morrer. Ao ver a mãe tão insegura com a morte e o vazio da inexistência inevitável que lhe espera, como diz, mente-lhe confessando que sabe o que acontece depois da morte e que ela vai para um sítio agradável. Acontece que alguns enfermeiros ouviram o que tinham dito e acreditaram como sendo a verdade inquestionável.
Resultado: no dia seguinte aparece-lhe uma multidão à porta de casa à espera para lhe fazer perguntas de todo o tipo sobre o fim da vida. Mark decide fazer, em caixas de pizza, o que se assemelha a uma Bíblia ou texto religioso, onde escreveu invenções e mentiras, algumas em forma de regras, como: há um homem no céu que comanda tudo e todos e quando morremos vamos para uma mansão no paraíso. Em pouco tempo torna-se uma figura famosa e incontestável mundialmente, criando uma religião de volta das suas afirmações enganosas.
É um filme simples, mas eficaz; é hilariante sem muito esforço, porém pertinente e extremamente inteligente. Tem consciência dos assuntos tratados e não tem medo de os abordar e levar mais longe. Há uma paródia religiosa inofensiva e necessária que leva os espectadores a pensar no certo e no errado, na verdade e na mentira, na vida em sociedade e no cerne do ser humano.
Ricky Gervais junta-se a muitas outras caras do mundo da comédia, como Tina Fey, Jonah Hill, Jason Bateman e Jeffrey Tambor, para fazer uma produção singular. A Invenção da Mentira é um filme a não perder, que junta o melhor do humor britânico com atores americanos, e acredito que irão ficar surpreendidos logo nos primeiros minutos. Vão querer saber o que acontece ao primeiro mentiroso do mundo.
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