Outlander, Primeira Temporada - "Sing me a song"
Já falei sobre Outlander com várias pessoas mas não me vou cansar de repetir. Agradeço aos amigos que tiveram a coragem de me ouvir e começaram a ver (mas, sinceramente, o agradecimento devia ser dirigido a mim).
Não vos sei explicar o lugar que esta série tem no meu coração. Acho que começou quando a Netflix chegou a Portugal e durante uns dias (ou semanas) estive à procura de algo novo e entusiasmante para ver. Assim que vi Outlander na barra de sugeridos pensei "o que é isto?" e quando percebi que era histórica tive de clicar no primeiro episódio.
Desde aí me tenho vindo a apaixonar cada vez mais e talvez me tenha tornado um bocado fanática (oops???). É normal, a série já foi acumulando milhares de fãs ao longo dos anos. Muitos deles vêm dos livros que têm sido publicados desde a década de 1990. A autora, Diana Gabaldon, está agora a trabalhar no 9.º livro (entretanto, desde o último livro publicado, já saíram 5 temporadas). Deve ser por fazer parte do fandom mas realmente sinto que quem vê tem muito carinho pelas personagens, pela história e pelos atores (aviso já que são fantásticos).
Gosto tanto disto que decidi que não fazia sentido estar a fazer um comentário para a série toda. Vou (talvez num ato de loucura) fazer um post para cada temporada (mais tarde vão agradecer, prometo). Claro que terei um spoiler alert para cada post para além deste porque deverão conter spoilers das temporadas anteriores (não da temporada à qual será direcionado, claro).
Vou agora explicar-vos os acontecimentos gerais do primeiro episódio. A história começa no fim da Segunda Guerra Mundial. Claire Randall (Caitriona Balfe) foi enfermeira durante a guerra, é ela quem narra os acontecimentos ao longo dos livros e dos episódios. Ela e o marido, Frank (Tobias Menzies), decidem fazer uma viagem de segunda lua de mel para a Escócia, já que tinham passado tantos anos quase sem se ver. Em Inverness, o local que escolheram para passar as férias, Frank passa tempo à procura de um antepassado que era general do exército inglês e fazia patrulha pela zona. Sendo Professor de História, interessa-se muito por genealogia, principalmente a sua.
O casal acaba por ir visitar a casa do reverendo Wakefield, que tem um arquivo histórico impressionante. É aí que a empregada do senhor lê a palma da mão de Claire e diz-lhe umas coisas meio estranhas (não quero explicitar para incentivar a vossa curiosidade). Mais tarde, Claire e Frank vão visitar um conjunto de pedras em círculo - Craigh na Dun (imagem abaixo, infelizmente não existe na vida real) - onde são espectadores (escondidos) de um ritual ancestral. É basicamente uma dança, muito bonita, de várias mulheres de roda das pedras. Descobrem que uma das dançarinas era a empregada do reverendo.
No dia seguinte, enquanto Frank continua a sua busca histórica, Claire volta às pedras para observar umas plantas que tinha visto. Vai sozinha, estaciona o carro e dirige-se ao local um pouco distante. Aí começa a ouvir um zumbido e a sentir uma força esmagadora. Aproxima-se da pedra mais alta do meio e, por uma razão estranha, sente-se obrigada a tocar nela. Ao narrar a sua experiência, a enfermeira compara este acontecimento a um acidente de carro. Sentiu a mesma energia a puxá-la para cima e, muito rapidamente, de volta para baixo.
Acorda no chão ainda no meio das pedras. Meio atrapalhada levanta-se e, num primeiro instinto, volta para o carro (que não encontra no sítio onde tinha estacionado). Claire continua a correr confusa, à espera de encontrar uma explicação lógica para o sucedido. Começa a ouvir tiros e não tardou muito para estar no meio de um tiroteio entre, o que parecia, redcoats ("casacos vermelhos", nome dado ao exército inglês) e homens de kilt.
Estes são os primeiros acontecimentos que levam a que Claire se aperceba que está presa noutro tempo que não o seu. Mas antes que a sua consciência compreenda já está a ser levada pelos escoceses para o castelo Leoch, que tinha visitado anteriormente com Frank.
Agora que já sabem as bases da história acho que começam a perceber o interesse. Ver esta série é uma excelente maneira de observar como as coisas funcionavam naquela época e contexto social, cultural e histórico. Aposto que pouca gente sabe muito da História escocesa para além do básico: fazem parte do Reino Unido. O que nos contam a partir desta temporada é como a submissão a Inglaterra agrava a vida das populações de highlanders. A vida de clã está muito bem retratada, da língua aos costumes e tradições, à comida e aos kilts. Claire, por ser inglesa, é vista como uma estrangeira/estranha (outlander, ou sassenach - em gaélico, língua escocesa). Os ingleses, desde cedo, dominavam a população das Terras Altas como se fosse um aprisionamento, esta vigia constante fazia com que houvesse uma enorme rivalidade entre os povos.
Sentimos o choque temporal com ela. Todos com quem se cruza ficam espantados com a sua personalidade e maneira de falar. A vida e sociedade do século XX é muito diferente da do século XVIII. É uma mulher determinada, que não tem medo de expressar as suas opiniões e com conhecimentos médicos superiores aos da altura em que se encontra presa. Muitos homens a vêem como uma ameaça e desconfiam das suas ações, especialmente por ser uma mulher inglesa no meio de escoceses. Tem de negociar pela vida e aprender a jogar as cartas certas.
Vamos-nos aproximando das personagens à medida que Claire o faz. Por isso, à medida que faz amigos e inimigos, nós fazemos também. Não vos vou esconder o facto de ser um romance. Apesar de ser casada, a personagem principal vai ter de fazer escolhas difíceis para conseguir sobreviver no passado (mais não digo). Mas não quer dizer que sejam de todo más (vão gostar, prometo) - tenham atenção a um ruivo, depois falamos melhor. Muitas dessas escolhas vão ser por causa do vilão principal. Descobrimos que afinal nem tudo é o que parece e Claire fica com uma mistura de sentimentos (que também sentimos) acerca de alguns seus compatriotas (e não só) e da maneira como as coisas funcionam. Também tem muita ação, por isso preparem-se.
A série não esconde a parte sexual, por isso não se assustem. Quem está habituado a ver Game of Thrones nem vai notar. Para além disso, muitos tópicos menos bons são abordados. Quero deixar bem claro que a série contém leve nudez, violência e sangue (incluindo cenas mais gráficas de Claire a fazer o seu papel de enfermeira), violação e assédio, menções de stress pós-traumático e pensamentos suicidas. Se forem sensíveis a algum destes temas aconselho-vos a não ver ou mandarem-me mensagem para vos indicar que cenas ou episódios não devem assistir. Estes assuntos têm uma representação muito real na série (também pelo excelente trabalho dos autores) e por isso é algo cuja precaução quero insistir.
Se gostam de História e de romances históricos sei que vão amar. Isso vos prometo. E quem não costuma ver porque acha que não gosta... Bem, vão mudar de ideias. O conceito de viagem no tempo é explorado o suficiente para percebermos o básico mas sempre deixa com mais interesse e curiosidade. A ideia de alguém conseguir viajar para um tempo passado faz-nos pensar muito o que faríamos no seu lugar (eu já pensei o suficiente e acreditem, estaria morta numa semana).
Claire usa a sua sabedoria médica, o que faz com que seja mal vista por ser mulher. Chega a ser acusada de bruxaria. Há alturas em que a personagem se sente desconfortável, como qualquer pessoa nesta situação. Não só quando é vítima de machismo mas também quando se vê em conflito com a sua consciência. Muitas vezes quer avisá-los do destino da Escócia durante o século XVIII mas não pode porque desvendaria o seu segredo.
Por onde é que hei de começar a falar da produção? Os cenários são espectaculares. Nunca na minha vida tive a panca de querer ir à Escócia e agora quero ir a todos estes campos (frios como tudo, aposto), castelos antigos e outros sítios históricos. É incrível como remodelaram os locais já quase abandonados e destruídos para ficarem como eram na sua grandiosidade. O guarda-roupa foi feito com uma enorme dedicação, tanto o de 1945 como de 1743, são magníficos e contribuem para a autenticidade da história. Não se compara com os outfits da segunda temporada mas vão ter de esperar para ler o próximo post sobre Outlander, vou-me divertir imenso a falar sobre isso.
A abertura tem uma música original que é simplesmente linda. Normalmente quando as séries têm introduções tão longas, e a Netflix até nos deixa passar à frente, não costumo hesitar. Mas aqui... Em todos os episódios tenho de cantar. É tão calma e relaxante e, ao mesmo tempo, a sua poesia dá-nos vontade de decifrar o significado. É daquelas que dá um cheirinho do que se vai passar ao longo da história e ficamos ainda com mais vontade de ver. Enquanto vamos ouvindo as palavras e a sua melodia também nos encantamos com as imagens absurdamente fantásticas.
Fui rever esta temporada pela milésima vez para esta review e tenho de vos dizer que é como se tivesse sido a primeira. É sempre como se fosse a primeira vez. Não consigo não ficar ansiosa com alguma cena mais tensa mesmo já sabendo o que vai acontecer. Mistura muito drama com política e problemas históricos e culturais. Deixa muitas perguntas por responder para a próxima temporada: será que ela vai voltar para o futuro? O que aconteceu ao Frank? Será que vão mexer com o passado e mudar o futuro? Não vos vou estragar a série e responder mas acreditem que se começarem a primeira temporada, mais cedo ou mais tarde, vão ter de ver a segunda e por aí a diante. É muito viciante. E sim, adivinharam, é a minha série favorita.
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