Os Sete Anões e os Sapatos Mágicos - Como marketing pode arruinar um filme fantástico
Estava para sair em 2017 se não tivesse sido pelo problema do marketing. Virou as redes sociais completamente contra a produção. Estreou em 2019 mas só há pouco tempo é que tive a oportunidade de ver mas quem me dera que tivesse sido mais cedo. Toda a gente deveria estar a falar dele e do quanto precisávamos de um filme infantil assim. Acertaram em cheio, fizeram um trabalho fantástico de criar uma história que toda a gente tem de ouvir.
Não sei se ouviram falar (devido à má fama), mas vou explicar na mesma. Há uns anos saiu um poster do filme com a seguinte frase:
O que aconteceu foi que quem lia ficava com a impressão que queriam dizer que uma Branca de Neve mais gorda não seria bonita. Não foi a melhor tática de publicidade. E, infelizmente, fez com que muita gente difamasse o filme pela Internet fora (sem sequer tentar perceber o contexto). A produção ficou oficialmente vista aos olhos do mundo como gordofóbica e, mais tarde ou mais cedo, deu-se o seu esquecimento. Até eu, que (modéstia à parte) me sinto mais ou menos a par das estreias, nunca mais me lembrei até me falarem dele.
Na verdade, o filme não tem nada a ver com as críticas e os rumores. Dá um twist moderno à velha história da Branca de Neve. Aqui, em vez da típica beleza padrão que encontramos espalhada pelos media, a Branca de Neve é diferente (não digo "real" porque reais somos todos). Diferente no sentido de ser mais inclusiva, de mostrar mais para além do que estamos habituados e que insistem como sendo a norma. É uma representação muito importante para crianças, adolescentes e adultos que nem sempre veem alguém igual a si na televisão ou no cinema.
Nesta versão do clássico, o pai, que também aqui é o rei, desaparece (por maldade da bruxa má, Regina - a madrasta) e a Branca de Neve vai tentar encontrá-lo. Acontece que entra na torre da bruxa à procura de pistas e, para além disso, descobre maçãs penduradas numa árvore. As maçãs abrem-se, tornando-se num par de sapatos vermelhos que ela calça. Nesse momento, Regina entra na torre, vê uma nova versão da Branca de Neve que não reconhece e a princesa acaba por conseguir fugir usando uma vassoura voadora.
Não tendo carta de aviação, vai, muito descontrolada, ter à casa de sete anões. Ao início pensavam que era uma bruxa, rapidamente apaixonaram-se pela sua aparência. Os sapatos tornaram a Branca de Neve numa pessoa supostamente mais bonita (repito, dentro dos padrões).
Dão muita atenção à chegada da princesa já que eles estão presos a uma maldição. De facto, os anões, quando não o eram, faziam parte de uma equipa de heróis (os 7A) que salvava pessoas em apuros. Um dia, pensando que uma princesa que tinham salvado era uma bruxa - devido à sua aparência (afinal era uma fada princesa) - , esta transforma-os em anões, pequenos e verdes. Mantêm esta forma sempre que alguém olha para eles. Apenas o beijo da mulher mais bonita do mundo poderá quebrar o feitiço.
Como devem julgar, assim que eles viram a Branca de Neve, aperceberam-se logo que poderia ser a chave para voltarem ao normal. Só em casa deles é que a princesa se apercebe do que os sapatos tinham feito à sua imagem e como a alteraram. Ela diz o seu nome (mudando para Red Shoes de modo a não pensarem que era a princesa) e conta-lhes que está à procura do pai. Não demoram muito para se oferecerem a ajudar. Claro, como desculpa para ficarem mais próximos dela (o que poderia levar a um futuro beijo com a bela mulher).
Durante a busca são muitas vezes interrompidos por vários seres monstruosos ou guardas à procura da ladra dos sapatos. A Branca de Neve começa a apaixonar-se por Merlin, o líder dos 7A. Felizmente, ele também. O único problema é que se apaixonou pelo exterior que ela aparenta ter com os sapatos. Merlin passa o filme a avisá-la que o seu "eu anão" não é a sua verdadeira forma. Contudo, ela apaixona-se por ele de qualquer maneira, mesmo pequeno e verde. (Spoiler Alert) Quando Merlin descobre a verdade sobre a real aparência dela hesita. Até que se lembra que o importante está no interior. Vemos um desenvolvimento da personagem fantástico e é o que torna o fim tão maravilhoso. É lindíssimo, mesmo.
Obviamente, a beleza vem de diversos tamanhos e formas. Será cliché dizer que é tudo muito subjetivo? Porque é. Somos todos diferentes mas por isso é que é tão importante percebermos a beleza que há em cada um de nós. Inevitavelmente, como seres vivos, a primeira coisa que reparamos em alguém é na sua aparência. A moral da história serve-nos de exemplo sobre como as coisas mais bonitas do mundo dependem da perspetiva, do contexto e até do amor.
Infelizmente, a fama com que ficou não ajudou para o alcance que merecia. Ainda por mais, foi a primeira produção animada dos estúdios sul-coreanos Sidus. Teria sido a forma de se afirmarem num mercado tão competitivo. A criação da animação teve início há vários anos e contou com o apoio de centenas de animadores para transformar a ideia em 3D. No projeto trabalharam também antigos produtores da Disney, de filmes como Entrelaçados e Frozen.
Fico imensamente devastada de saber que pode ter sido um enorme falhanço. Mesmo assim, apesar das poucas audiências (e de ainda nem ter saído nalguns países), mantém um grande clube de fãs online desde a estreia. São estas pessoas que poderão ajudar o filme a ter mais reconhecimento e, por consequência, os estúdios.
É uma história muito especial, sem dúvida. Só dá para perceber o quanto ao assistir. O enredo é muito simples mas perfeito para qualquer criança perceber e a mensagem final compensa bastante. Prometo-vos que não vão ficar desapontados. Acredito que ficarão surpreendidos, talvez. Depois de me ter sido recomendado fui passando a palavra e posso confirmar que quatro em cinco espectadores (com coração mole) choram com o fim.
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