Adoro devorar séries em menos de 24 horas e com esta fiquei completamente apaixonada. Estreou em 2019 (fui louca para só ter começado a assistir em confinamento) e apresenta-nos três mulheres com três histórias arrepiantes. Só o nome pode dar indícios de ser uma série sombria. Acreditem ou não, está muito longe disso. O conceito é de génio.
O formato foi, automaticamente, o que me fez agarrar à HBO durante 10 episódios (seguidos). As histórias falam de três casais em três décadas diferentes cujas circunstâncias, ainda que contextualizadas na sua época, não são assim tão distintas. O marco da sua semelhança está, em grande parte, no cenário. Vamos acompanhando as vidas destas pessoas que moraram todas na mesma casa (não na mesma altura, obviamente) e as reviravoltas que sofreram dentro dela.
Em 1963 conhecemos Beth Ann e o marido, Rob. Acabados de se mudar para uma casa-mansão em Pasadena, aparentam ser o casal mais normal possível, mostram o típico casamento da década de 1960. Mais tarde vamos descobrir os segredos de ambos. Enquanto nas compras, a esposa ouve a conversa de umas vizinhas em que comentam que Rob a anda a trair com uma empregada de mesa.
Beth Ann fica desgostosa. Não tinha passado muito tempo desde a morte inesperada da sua única filha e nunca pensaria que o marido seria capaz de fazer uma coisa destas. Decide confrontar a amante no restaurante mas quando lá chega descobre que afinal a rapariga - April - é um amor de pessoa e não se consegue impor. Chega até a chorar.
Começa uma amizade improvável com April ao mesmo tempo que arranja um plano para se vingar de Rob. Porém, claro que não fica por aí, vamos descobrindo detalhes chocantes e conhecendo novas caras que vão obrigar as personagens a tomar decisões arriscadas, perigosas e ilegais.
Simone e Karl são o casal luxuoso que acompanhamos em 1984. Karl é já o terceiro marido da socialite. Têm ambos uma galeria de arte, onde trabalham, e fazem parte de um clube privado. Durante um jantar que organizam em casa (a mesma casa de Beth Ann e Rob, 21 anos depois), Simone encontra um envelope com fotos de Karl a beijar outro homem.
Imediatamente confronta o marido sobre o assunto na casa-de-banho. Com a mente (como sempre) na opinião dos outros, decidem dizer que Karl se sente mal e este só pode voltar para baixo quando tiverem saído todos da festa. No fim, quando Simone vai ter com ele ao quarto, encontra-o inconsciente na poltrona e percebe que se tentou suicidar (de vergonha) tomando uma dose drástica de comprimidos.
Karl fica internado no hospital mas recupera. Decidem não se divorciar antes do casamento da filha para não roubar as atenções e evitar que os amigos falem mal deles pelas costas. Tommy, um jovem de 18 anos (filho de uma amiga, também socialite, de Simone) que tem uma enorme paixão por Simone, também viu as fotos e quer ajudá-la a recuperar do coração partido. Começam um caso amoroso altamente secreto.
Já no século XXI, em 2019, apresentam-nos Taylor e Eli. Representam o moderno mais moderno. Aqui a mulher é a manda-chuva e têm um casamento aberto. Ou seja, podem ter casos com qualquer pessoa desde que não se envolvam emocionalmente ou levem para a casa onde vivem juntos. Taylor é advogada e Eli é guionista, ultimamente tem estado com um bloqueio criativo e, por isso, o dinheiro que chega para os sustentar vem principalmente da esposa.
Numa noite, Taylor recebe um pedido de socorro de uma rapariga com quem teve um caso, Jade (sim, Taylor é bissexual). Acontece que o ex-namorado violento de Jade estava a ameaçá-la e precisava de ajuda. Eli fica reticente quando, em vez de a levar para um hotel, traz a amante para casa. Contudo, assim que vê a rapariga fica hipnotizado pela sua beleza. Decidem que pode ficar um fim-de-semana.
No tempo em que fica com eles, Jade demonstra ser uma pessoa muito atenciosa, toma conta deles e da casa (a mulher de sonhos dos dois). Depois de uns percalços e sustos, os três começam uma relação entre eles, tornando-se, no que chamam, uma família. No entanto, vão acabar por vir memórias do passado ao de cima e descobrem que afinal desconhecem totalmente a pessoa que Jade é.


As introduções para os episódios são muito bem pensadas e, por vezes, hilariantes. Como sabemos que alguém vai morrer e alguém vai matar (pelo título) o suspense está sempre em alta para tentar perceber melhor as razões das mortes. Quando julgamos "ah, foi por isto", momentos depois está a acontecer algo ainda mais absurdo que faz mudar de opinião. O último episódio joga com isto deliciosamente. As expectativas ficam muito altas mas prometo que serão alcançadas.
Vamos ouvindo as histórias intercaladas e sem confusões. As transições para os diferentes anos são muito claras e bonitas de assistir (principalmente na cena clímax). Retrata as épocas de acordo com o que era considerado o papel da mulher e como tem vindo a mudar. Discutem assuntos muito importantes como o poder que os maridos têm sobre as suas esposas nos anos 1960, ou doenças sexualmente transmissíveis que destruíram muitas vidas e que vieram mais a público nos anos 1980. Falam sobre sexo, droga, abortos ilegais, violência doméstica, traição, (praticamente) pedofilia, assassinato e muito mais. Tudo para vos deixar na ponta da cadeira.
A caracterização, as personagens e o cenário, tudo muito bem conseguido e autêntico. Apesar do tom sério que muitas vezes tem, não deixa de nos fazer rir. É impossível os nossos corações não ficarem movidos pelas circunstâncias das personagens, umas mais do que outras. Estas três mulheres principais têm personalidades muito distintas com as quais nos familiarizamos logo desde o início. A performance das atrizes foi divinal - a Lucy Liu é uma deusa - e é o maior fator que nos apega às histórias. São estas personagens que vamos seguindo, vendo sempre o seu ponto de vista sobre a situação.
Chamo-lhe uma "masterpiece" (obra-prima) porque foi daquelas produções em que assisti só por assistir. Ninguém me tinha falado dela, nem tinha lido o nome nalgum lado (senão no menu da HBO), e dou por mim a fazer uma descoberta fantástica. Quase fico sem palavras, na verdade foi mesmo a minha reação quando acabei de ver. Não tiro nem ponho nada: 5 estrelas. É uma série divertida, empolgante, misteriosa e completamente desvalorizada. Por isso, e se não se importarem, vão lá descobrir porque é que mulheres matam.
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