A Beleza de Normal People (Pessoas Normais)
Retrata as várias fases de um relacionamento que, na minha opinião, é desnecessariamente complicado. Há muitas alturas frustrantes em que apetece gritar: "Fiquem juntos. Qual é a cena?". Contudo, há um leque de questões individuais que não os permitem estar como quereriam estar. Chega a ser confuso perceber o que realmente querem. No entanto, é o único defeito que assinalo ao conceito. Creio que amar não tem, nem deve, ser assim tão difícil. Muitas vezes contentamo-nos só porque julgamos que não merecemos melhor (como Marianne faz várias vezes), mas acredito que o amor verdadeiro e simples é muito mais gratificante.
Mesmo assim, é magnífica a forma como, subtilmente, falam sobre o interior do ser humano e os seus desejos emocionais mais básicos. O enredo conta-nos, realisticamente, a vida de pessoas normais e certos momentos que marcaram essas mesmas pessoas ao longo dos anos (que, de uma maneira ou outra, vão dar à outra pessoa). São, literalmente, Normal People. Com os seus medos, inseguranças, pensamentos, erros e defeitos. Como qualquer pessoa normal, julgam que não o são. São pessoas normais que querem amor, dar e receber. Não só amor de outros, de eles próprios também.
É toda uma jornada através da nostalgia e depressão, onde as várias fases e idades se cruzam no trauma. Na verdade, toda a gente à volta dos dois principais parece ter algum tipo de trauma que os faz agir de certa forma. Qualquer pessoa normal está "estragada" de alguma maneira. Mas o amor que damos voluntariamente uns aos outros e a nós próprios salva-nos dessa avaria, pouco a pouco. Muda-nos a cada segundo e minuto que estamos com alguém em vez de outra pessoa, quase como uma evolução (nem sempre para melhor). É o veredito que consigo retirar.
Marianne tenta deixar para trás todo o sofrimento trazido pelos próprios familiares. Durante a maior parte dos episódios, toma decisões que nem sempre são as mais acertadas, só porque, a seu ver, era o que ela precisava e merecia. Connell ajuda-a. Aliás, ajudam-se um ao outro a perceber que merecem melhor. Não têm direito a menos do que amor e apoio, tanto de uma amizade como de um namoro ou outra ligação afetiva. A felicidade que trazem ao outro é incomensurável, são mais eles próprios quando estão juntos. E acho que todos já sentimos isso com alguém.
Apesar de ser uma série cujas cenas são bastante calmas e silenciosas, mantemos o foco nas personagens. Não há espaço para distrações, deixam-nos dar a máxima atenção à história e aos diálogos que, por vezes, conseguem ser muito comoventes. A fotografia é lindíssima e esteticamente satisfatória. As imagens podem ser minimalistas mas atrativas. O soundtrack é quase inexistente, mas esquecemos a sua existência com o que nos apresentam aos olhos e ouvidos. O significado do silêncio entre diálogos e cenas acaba por falar mais alto.
Todo este ambiente transporta-nos para os momentos em questão, como se estivéssemos lá com eles. Os atores demonstram emoções tão fortes que até nós sentimos. Muitas cenas nem precisam de som, apenas uma troca de olhares ou respirações dão a entender toda a comunicação implícita.
O ritmo é lento, ótimo para se ver a relaxar, devido à sua serenidade. A série traz muitas emoções ao de cima e pode até fazer-nos ficar com pele de galinha. De certeza que se irão identificar com alguma situação retratada. Mesmo se não acontecer, é impossível ficarem indiferentes. Apesar de tudo, e mesmo com o fim que tem (sim, preparem-se para uma viagem), não deixa de ser muito reconfortante. Depois de episódios sobre depressões, ansiedade, desilusões e desgostos, é importante não nos esquecermos das últimas palavras da série ditas por Marianne: "And we'll be okay" (e ficaremos bem). Porque somos pessoas normais.
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