Beetlejuice - Para amantes do Halloween que têm medo de filmes de terror

    Devido à fragilidade do meu coração, não sou a maior fã de filmes de terror. E, como sei que muita gente sofre do mesmo problema, decidi trazer-vos o filme que mais me grita Halloween. Gosto muito mais dos filmes que conseguem transmitir um determinado mood e esta altura do ano é excelente para apreciarmos filmes que não são necessariamente os mais assustadores de sempre, mas cujo charme consegue fazer qualquer um apaixonar-se. 

    Beetlejuice (1988) foi o filme que destacou Tim Burton como realizador. Mesmo assim, apesar do hype, não tem o reconhecimento que os seus filmes mais recentes têm. Foi também o início para a atriz Winona Ryder, com apenas 17 anos (praticamente a estrear-se) e foi uma excelente adição para o casting, para além dos outros atores mais conhecidos. Winona foi feita para este género spooky, o que demonstrou deste sempre.  

    São ambos figuras icónicas do mundo do cinema. A atriz inundou as salas de cinema de finais da década de 1980 e da década de 1990 (especialmente). Com filmes como: Heathers, The Age of Innocence, Little Women e muitos mais. Muitas das suas personagens incentivaram estilos e tocaram uma geração de adolescentes. E Burton todos conhecem, creio que é escusado apresentar. 

    Se não vivem debaixo de uma pedra (e já viram filmes como: Edward Scissorhands, Sleepy Hollow, Charlie and the Chocolate Factory, Sweeney Todd, Dark Shadows, etc.), de certo conhecem o estilo dos filmes de Tim Burton. Se não, Beetlejuice poderá ser uma boa forma para se familiarizarem.  

    O enredo é extremamente chamativo. Entramos na casa de Adam (Alec Baldwin) e Barbara (Geena Davis). São um casal sem filhos que, um dia, tem um acidente de carro. Mais tarde, acordam presos na sua própria casa (sem sequer conseguir sair para o quintal), como fantasmas, e têm de passar o resto das suas "vidas" - o pós-vida - a assombrar o local onde costumavam viver, tendo até um manual de ajuda para defuntos. É como se o seu emprego fosse assombrar. 

    Tempos depois, aparecem novos inquilinos. Uma família artista de Nova Iorque decide mudar-se para uma zona mais calma e sossegada. Adam e Barbara terão de os conseguir expulsar através do medo (o que não corre muito bem, já que a nova família é bizarra e disfuncional). A filha dos novos donos da propriedade, Lydia (Winona Ryder), consegue vê-los e fica fascinada, sem medo algum. Os dois fantasmas acabam por ter de pedir ajuda a Beetlejuice (Michael Keaton), um demónio excêntrico com má fama pelo mundo dos mortos. 

    O conceito é, simplesmente, de génio, com pequenos detalhes que levam esta comédia do absurdo à loucura: o manual dos mortos, o exorcismo de humanos (como se fossem uma praga), a receção do mundo dos mortos, tudo fantástico e extremamente original. Pouca gente se lembraria de fazer um filme de "terror" com estas características.

    O início é super alegre e otimista, vemos a vida do casal ainda vivo. Dá-se uma reviravolta quando morrem, ainda por cima quando o acidente é causado por um cão (mais um exemplo da comédia do absurdo). É um filme muito louco, peculiar e bizarro, Tim Burton style, sabem? É esta personalidade que transmite na realização que chama a atenção. É um tipo de "assustador" fora da caixa, arrepiante, mas familiar. Porque é que é tão maravilhoso? Porque abre as portas do imaginário, criou caminho para outros filmes deste género que plantaram o ideal de filmes de Halloween. 

    As personagens excêntricas, como Beetlejuice, são uma marca (óbvia, eu acho) do repertório deste realizador. Como vemos com as personagens interpretadas por Helena Bonham Carter e Johnny Depp, por exemplo. Tornam os filmes especiais, diferentes e apelativos. É uma forma de peculiaridade que reinventou o conceito de filmes de terror, está muito presente nos seus filmes e pela qual todos esperamos. 

    Os efeitos especiais de Beetlejuice são fenomenais. Não podemos olhar para filmes de épocas diferentes de forma condescendente, é preciso aprender a admirar algo trabalhoso que levou imensa dedicação artística e criativa, independentemente de hoje em dia se fazer de maneira diferente. O cinema é uma arte que se expressa a partir de diversos meios e nenhum é inferior ou superior. O filme refletiu muito as técnicas da sua década e, como cereja no topo do bolo, ganhou o Óscar de Melhor Maquilhagem em 1989. Sabiam que quem fazia do demónio era o Michael Keaton à primeira vista? Provavelmente não.

    Nunca é tarde demais para vermos um filme e é importante pensarmos neles no contexto da sua época. Beetlejuice foi uma revolução no estilo spooky que abriu caminho para todo um género e para novas técnicas de efeitos especiais. É dos meus filmes favoritos para assistir na noite de Halloween e, garanto-vos, pode não vos assustar, mas de certeza que se vão divertir. E sim, podem ver com crianças.